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Meu tempo na UNESCO e a vida depois

  • Cláudio Menezes
  • 6 de dez.
  • 6 min de leitura

Série: Minha História nas Nações Unidas

Dezembro / 2025


Dei início à minha carreira na UNESCO por um acaso, visto que tomei conhecimento de um posto vago quando o anúncio circulou onde eu trabalhava, na Secretária Especial de Informática. Esse órgão brasileiro era responsável pela formulação da política de informática do País e ficava em Brasília. Trabalhei lá de 1983 a 1987.


Fiz minha inscrição para o posto de Chefe da Divisão de Compras, em 1986, e ingressei na UNESCO em junho de 1987, para trabalhar na sede em Paris, após um processo seletivo que teve 64 candidatos de vários países. Inicialmente, minha missão foi a ampliação do uso de informática na antiga Divisão de Compras, Unidade do DEV (Bureau d'études, d'action et de coordination pour le développement) dirigido por John Borema Kabore. O objetivo foi assegurar maior eficiência e eficácia da Unidade. Em seguida, em 1989, passei a integrar o quadro de especialistas sêniores de programa, no Setor de Ciências, na Divisão para o Programa Intergovernamental de Informática (PII), onde permaneci até 1995, momento em que fui trabalhar no escritório da UNESCO no Brasil, na função de Conselheiro Regional para a América Latina. Em 1999, fui transferido para o Escritório Regional da UNESCO para a Ciência, o OREALC, em Montevideu. E retornei à sede da UNESCO em 2004, na Divisão para a Sociedade da Informação, onde permaneci até 2007, ano da minha aposentadoria.


Em meus 20 anos como funcionário internacional da UNESCO, tive a oportunidade de coordenar diversos projetos interessantes e que contribuíram para o avanço da educação, da ciência e da cultura, tanto na sede como nos escritórios regionais de Brasília e de Montevideu. Tive assim a oportunidade de desenvolver atividades em mais de 20 países membros da UNESCO, em diferentes continentes.



Da esquerda para a direita:

Foto 1 - Celebração pessoal após defesa de tese de Doutorado na UnB, 2007.

Foto 2 - Uma das bancas de defesa de TCC na UnB da qual fez parte, 2019.

Foto 3 - Celebrando a vida em casa, 2018.


Servi na sede da UNESCO de 1987 a 1995 e de 2004 a 2007. A unidade que inicialmente dirigi alcançou expressiva melhoria do desempenho no total anual de compras para os projetos. Além disso, com a colaboração da minha equipe, foi instaurado um processo de modernização dos procedimentos de compra com o apoio de sistemas informatizados, com relevantes benefícios para o desempenho da Organização.


Minha experiência anterior à UNESCO no campo da inovação tecnológica contou muito para esse trabalho. Na Divisão para o Programa Intergovernamental de Informática, inicialmente no Setor de Ciências (SC) e posteriormente no Setor para a Comunicação e Informação (CII), o foco consistia em assegurar o secretariado desse programa, mobilizar recursos extraorçamentários e implementar projetos nos países membros. Para dar uma ideia da relevância desse trabalho, no biênio 1992-1993 esse programa realizou 38 projetos nos países membros das regiões América Latine e Caribe, África, Ásia e Pacífico, Estados Árabes e Europa do Leste.


No período em que atuei no escritório da UNESCO em Brasília (1995-1999), na condição de Conselheiro Regional para a América Latina, desenvolvi diversas atividades do programa da Organização na região, principalmente as do que chamamos de “programa regular” da UNESCO. Nesse particular, convém destacar três conferências internacionais:  o Congresso Ibero-americano de Informática na Educação, em Brasília; o SIMPLAC – Simpósio Latino-Americano e do Caribe sobre Informática na Educação, na Ciência e na Cultura, em Aguascalientes, México, em 1999, e o Workshop Internacional sobre Educação Virtual - WISE’99, no Ceará, ainda em 1999. Também contribuímos com a publicação de livros e para a inserção da educação a distância em algumas universidades, como o projeto inicial que resultou posteriormente na criação do Instituto UFC Virtual na Universidade Federal do Ceará.


Em Montevideu, tive a oportunidade de interagir com os diversos programas da UNESCO em ciências - Programa Hidrológico Internacional, Programa O Homem e a Biosfera, Comissão Oceanográfica Internacional, entre outros. Além disso, os programas Memória do Mundo e Informação para Todos foram igualmente dinamizados nesse período nos países da América Latina e Caribe, mais particularmente nos países do MERCOSUL. Destaco, dessa época, o projeto de difusão da informação científica na América Latina e Caribe, com a formação de especialistas de vários países membros da UNESCO na construção de bibliotecas digitais em universidades da Região.



Foto 4 - Participando do Congresso da Associação Internacional de Línguas Estrangeiras Aplicadas – AILEA, do qual foi membro da direção. Saint Etiènne, França, 2019.

Foto 5 - Com o colega Evgeny Kuzmin, coordenador do GT sobre Multilinguismo, no programa Informação para Todos da UNESCO, 2019.

Foto 6 - Após a aposentadoria, na frente do Congresso Nacional, Brasília, em manifestação pública com professores da UnB, em 2024.


De retorno à sede da UNESCO, no período de 2024 a 2007, assumi a coordenação do programa Multilinguismo no Ciberespaço, que consistia na promoção da vitalidade linguística em países membros da UNESCO, em particular com uso das tecnologias de informação e comunicação. Esse programa estava vinculado ao Informação para Todos (IFAP em inglês, Information for All), resultante da fusão do Programa Geral de Informação (PGI) e o Programa Intergovernamental de Informática (PII). Nesse período, participei da delegação da UNESCO à Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, em Túnis, e coordenei a realização do  ITU and UNESCO Global Symposium on Promoting the Multilingual Internet, um evento vinculado ao seguimento da referida Cúpula, integrado à Agenda de Túnis sobre Sociedade da Informação.


O multilinguismo no ciberespaço na UNESCO está apoiado em diversas decisões das Conferências Gerais e, em particular, na Recomendação para Promoção e Uso do Multilinguismo e Acesso Universal ao Ciberespaço, aprovada pela 32ª Conferência Geral, em 2003. Esse tema continua sendo de interesse da Organização, comprovado por sucessivas consultas a seus Estados Membros. Nesse período, em que concluí minha atuação na UNESCO, pude colaborar intensamente com a difusão do multilinguismo no mundo digital por meio de eventos, debates, publicação de livros, projetos de inclusão de novas línguas no ciberespaço, desenvolvimento de software e outras atividades relacionadas à vitalidade linguística. Um exemplo relevante da atividade em favor da vitalidade linguística no mundo digital foi o livro Como assegurar a presença de uma língua no ciberespaço , de autoria do linguista Marcel Diki-Kidiri e do qual fui o editor, ainda hoje uma obra de referência sobre o tema.


Ao concluir meus anos de UNESCO, decidi retornar ao Brasil e reassumi as atividades no campo da educação, da ciência e da tecnologia, em 2007. Inicialmente, retornei ao quadro docente da Universidade Federal do Ceará, na área de computação. Logo em seguida, fui convidado para exercer a coordenação administrativa do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Nesse período, exerci também as funções de Secretário Executivo da Organização internacional não-governamental Rede MAAYA, Rede Mundial para a Diversidade Linguística. E, por último, em 2010, iniciei minhas atividades na Universidade de Brasília.


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Foto 7 - Em viagem para o Congresso em Yakutsk, Rússia, Cátedra UNESCO, 2019.


Nesse período, de 2010 a 2022, as principais ações desenvolvidas foram: 1) Apresentação da minha tese de doutorado intitulada Acesso e Compreensão de Conteúdos em Português por estrangeiros em Bibliotecas Digitais Científicas: Uma Proposta Metodológica e sua Implementação; 2) Criação do Bacharelado em Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo e à Sociedade da Informação, cujo projeto pedagógico eu elaborei e cuja implantação desenvolvi como primeiro coordenador desse novo curso; 3) Promoção de atividades de cooperação internacional acadêmica, como a Coordenação da Cátedra UNESCO na UnB sobre Políticas Linguísticas para o Multilinguismo; Convênio de Cooperação com a Universidade de La Rochelle; Participação no conselho diretivo  da Associação Internacional de Línguas Estrangeiras Aplicadas (AILEA). O período de 12 anos de atividades na UnB me propiciou uma recente homenagem que muito me honra: recebi o título de Professor Emérito dados pelo Conselho Universitário da UnB.


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Foto 8 - Com a reitora Rozana Naves recebendo o Título de Professor Emérito do Conselho Universitário da UnB, abril 2025. (Luis Gustavo Prado/Secom UnB)


Neste momento, aos 78 anos, dedico-me ao voluntariado. Exerço, desde novembro de 2024, a presidência da AAFIB – Associação dos Antigos Funcionários das Nações Unidas no Brasil. Sou muito agradecido a meus colegas da AAFIB pela confiança que me foi dada para coordenar a equipe que dirige essa importante Associação de servidores aposentados. É uma honra exercer a presidência da AAFIB, cujo objetivo é prestar apoio e cuidados àqueles e àquelas que tanto contribuíram para as missões do Sistema das Nações Unidas em todos os continentes.


Como falei anteriormente, de certa forma ingressei na UNESCO em função de um acaso do destino. Mas esse acaso definiu parte indissociável da minha vida pessoal e longa vida professional, das quais tenho muito orgulho e satisfação. Foi para mim um privilégio ter servido a um órgão tão fundamental e essencial para a paz e o desenvolvimento dos povos: a UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Em linhas gerais, esta foi - e ainda está sendo - a minha trajetória no contexto da UNESCO e agora na AAFIB.


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