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  • Maria Dulce Almeida

Como ingressei no Sistema ONU

Série Nossa História nas Nações Unidas

Setembro / 2024


Anos 1980, sete anos depois da tomada de poder pelo o PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, passei a sofrer pessoalmente com as investidas da segurança interna. Estávamos em uma situação política ainda muito conturbada depois de um golpe de Estado militar. A essa altura eu já não dava aulas. Porque depois de me formar em Portugal, em Ciências Físico-químicas, sempre dei aulas de Física, Química e Matemática, mas foi antes da independência do país.


Naquela ocasião eu era diretora-geral do ensino no Ministério da Educação da Guiné-Bissau. Meus amigos de fora de Bissau e da UNESCO, cientes dos riscos que eu corria, aconselharam-me a sair do país e para isso, sugeriram que me candidatasse a um posto de consultora na agência em Moçambique, em um projeto de educação.


Nos tempos da Guiné-Bissau


Postulei, secretamente, para esse posto e meses depois recebi a comunicação da aprovação da candidatura, mas agora para um posto na sede da UNESCO, em Paris. E foi assim que, em novembro de 1984, meus filhos, minha mãe e eu nos encontrávamos em Paris. Meu marido, que me incentivara a sair de qualquer modo de Bissau, juntou-se a nós algum tempo depois.







Com Rita Lakin na sede da UNESCO em Paris, na Divisão do Ensino Superior, comandada pelo Diretor brasileiro Marco Antonio Rodrigues Dias



Meu trabalho na UNESCO durou 20 anos. Seis desses passaram-se no escritório em Brasília, entre 1996 e 2002, período em que melhor vivenciei a UNESCO e sua missão. Mais ‘próxima do terreno’, era muito mais fácil avaliar a eficiência das políticas de formação, quer do governo quer da própria UNESCO. O fato de ser natural da língua portuguesa, embora capaz de me comunicar em inglês e em francês, contribuiu muito para a troca de experiências com o Brasil.


Aqui no Brasil e no âmbito da UNESCO, eu adorei ter trabalhado com o MST – Movimento dos Sem Terra! Nos acampamentos, ter constatado as enormes dificuldades e sem cair na complacência sentir a transparência e a coerência dos técnicos no terreno. Gostei muito também de ter trabalhado com os técnicos do Ministério da Saúde nos anos terríveis de prevenção da AIDS. As histórias são várias e muitas engraçadas, mas a memória já não me permite lembrar dos detalhes.


Este é um país com muita inventividade e extremamente inovador mesmo se, não raras vezes, com muita, mas acertada, improvisação. Tem uma frase que eu aprendi a apreciar aqui: “se não deu certo, é porque ainda não terminou”. Isso é bem o retrato desse saber viver! Trabalhar no Brasil enriqueceu minha experiência internacional profissional e de vida, especialmente a da minha região original, a África Ocidental.















À porta da minha sala no escritório da UNESCO no Brasil, em Brasília, com um grupo de professores


Eu me aposentei na sede da UNESCO em Paris e resolvi que queria viver em Brasília, onde já tinha uma rede bem estimulante de relações pessoais. Note-se que minha proximidade afetiva do Brasil sempre existiu, tendo começado pelos meus pais, com minha família em geral, com os sambas e marchinhas de carnaval, tudo isso quando eu era criança e adolescente ainda em Bissau!


Na Praça do Comércio, em Portugal


Em Brasília, aposentada, tive ocasião de prestar serviço para o Banco do Brasil e para a Caixa Econômica Federal, em projetos em comunidades empreendedoras, em colaboração oportuna com a Universidade das Nações Unidas.


Com tempo disponível - quando não estou com os netos, a maior parte em Brasília - não nego que sinto falta de Paris e de suas inúmeras possibilidades de entretenimento, das viagens curtas que nos levavam a outros países, sem falar das visitas de familiares e amigos com vontade de conhecer Paris! No entanto, as amigas, os amigos, os círculos de leitura, o cinema, o Clube do Choro, as feijoadas e os churrascos substituem bem as delícias de outras paragens.

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