Série Nossa História nas Nações Unidas
Fevereiro / 2024
Nos primeiros anos 60, foi criado um organismo técnico sui generis, por iniciativa da OIT e participação de quase todos os países das Américas e Caribe, dedicado à cooperação horizontal entre os países da região, a partir da descrença de que os países centrais iriam transferir tecnologia de graça para os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
Na forma de um Centro Interamericano para o Desenvolvimento da Formação Profissional e o Emprego, foi criado com sede em Montevidéu e, por negociação, o diretor seria brasileiro.
O primeiro diretor foi nomeado pela OIT, cabendo a um profissional brasileiro que chefiava um projeto no Chile. Foi aprovado pelo Conselho do Centro e lá permaneceu até 1978, quando se enfermou e faleceu.
O governo brasileiro enviou uma missão à OIT para falar com o diretor-geral e cobrar a titularidade do posto. E foi também o momento em que chegaram ao meu nome. Eu já havia rejeitado duas bolsas de estudos nos Estados Unidos pela minha faculdade e não queria nem podia sair do país.
Mas colegas do Ministério insistiram, convenceram minha mulher e facilitaram todas minhas objeções. Fui indicado, mas tive de enfrentar provas de conhecimento e línguas em Genebra. E foi assim que ingressei na OIT, como diretor (D1) de um Centro Interamericano de Formação e Emprego. E nesse posto permaneci 14 anos. Depois fui transferido como Diretor da OIT no Brasil, com sede em Brasília.
Conferência Anual do Trabalho da OIT, 1998
O que fiz no Sistema que considero mais importante?
Havia uma pequena crise na reunião de governo em 1998. Como diretor no Brasil, eu estava certamente envolvido. Era uma reclamação sobre maus-tratos no ambiente de trabalho. Minha saída foi reunir representantes de trabalhadores, empregadores e governo para um encontro e lá desenhamos um projeto que buscaria atender aos problemas citados. A OIT daria uma contribuição técnica e o governo brasileiro daria as facilidades para operação do projeto, que se chamou “Brasil: Gênero e Raça”. Criei um fórum que funcionava na sede da OIT e reuni todo tipo de pessoas interessadas no tema.
Um dos resultados foi a criação de duas Secretarias no Ministério da Justiça para atender às mulheres e à discriminação racial no trabalho. Aí tiveram início as mobilizações que até hoje cobram mudanças na cultura social do país. Não posso omitir que contei com a colaboração decisiva dos meus e minhas assistentes no Escritório em Brasília.
Minha vida de aposentado me permitiu desfrutar de maior tempo em atividades lúdicas e culturais, leituras, cinema, maior dedicação aos familiares e amizades e com a AAFIB, onde concentro boa parte de minhas iniciativas de confraternização.