Série Nossa História nas Nações Unidas
Fevereiro / 2024
Minha entrada no sistema Nações Unidas foi feita aos poucos, há mais de meio século, por meio de consultorias rápidas para a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde). Uma consultoria mais importante foi a participação de 1957 a 1972 do “Comitê de Peritos da FAO/OMS em Brucelose, Genebra”, com reuniões periódicas em Genebra. Isso ocorreu porque nesse período eu efetuava pesquisas sobre Brucelose no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, como Tenente e Capitão Veterinário do Exército Brasileiro, em caráter voluntário e sem remuneração pelo Instituto. Muitas outras consultorias para a OPAS se sucederam, sobre assuntos em que eu era especialista como microbiologia, brucelose, bem-estar animal, peste bubônica, primatologia.
Uma consultoria a médio prazo, ainda pela OPAS surgiu quando ao fim de um “Fellowship” em Berkeley, da Fundação Guggenheim, Califórnia, a OPAS contratou-me para durante 4 meses efetuar visitas e conferências em Universidades do México e EUA, com a finalidade de verificar instituições para as quais pudessem ser enviados bolsistas latino-americanos da OPAS em algumas especialidades.
O último contato com o Sistema Nações Unidas foi a participação de 1969 a 1974, já na Reserva do Exército, como Coronel Veterinário Professor, num grande projeto da FAO (Food and Agriculture Organization) na República Dominicana, de longo prazo, com dezenas de “Experts”, na “Universidad Autónoma de Santo Domingo”. Cerca de um ano após minha chegada, acumulei as funções no projeto da Universidade com a de consultor para os Ministérios da Agricultura e da Saúde.
Meu contato com a OPAS desde 1948 permite-me avaliar o que ela tem representado para a Saúde pública no continente, em particular nos momentos de crise como na recente pandemia da zoonose COVID e na erradicação.
Minhas lembranças mais marcantes
Durante os muitos anos de convívio com o sistema ONU, tive muitas oportunidades para satisfação interagindo com pessoas e instituições de vários níveis e países em campos nos quais era especialista: microbiologia, brucelose, animais de laboratórios, peste bubônica, primatologia.
Destaco um fato que me deu e me dá muita satisfação retrospectivamente. Pouco depois de chegar na República Dominicana, em 1969, como participante de um projeto do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), executado pelo FAO (Food and Agriculture Organization), como Especialista em Microbiologia na Universidade Autônoma de Santo Domingo, o Ministério da Agricultura Dominicano solicitou que minhas atividades fossem ampliadas para reativar um laboratório Veterinário que estava praticamente sem funcionar.
A base da economia do País era agropecuária. Os alimentos e outros produtos de origem animal ou vegetal constituíam parte importante da vida dominicana. Entre estes as proteínas de origem animal principalmente: carnes bovina, suína e de frangos.
Justamente os animais que as produziam estavam submetidos a surtos ou com eles conviviam brucelose bovina (uma zoonose, com muitos casos humanos), peste suína clássica e peste aviária.
Uma das primeiras providências tomadas, depois da limpeza do Laboratório foi treinar em serviço pessoal jovem contratado. Durante os 5 (cinco) anos de minha permanência no País foram mandados para o exterior. Ao mesmo tempo, medidas para combater as três doenças mencionadas.
Quanto à brucelose bovina, eu já possuía experiência de décadas de pesquisa no Instituto Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro de modo que foi fácil para o Laboratório fazer a vacina específica e eliminar a doença. Para a peste suína clássica tive a sorte de pouco depois de minha chegada ao país os cientistas chineses terem desenvolvido uma amostra atenuada do vírus causador que tinha propriedades altamente imunizantes.
O Laboratório passou a fabricar vacina com ela, controlando a doença. A peste aviária foi combatida com reforço das medidas que não eram obedecidas. Desse modo contribuído para a economia e saúde da população.
Esses três exemplos são amostras do muito que um projeto das Nações Unidas pode fazer num país o que deve ter sido lugar comum para todos os Membros da AAFIB.
Milton continua bem ativo sobretudo junto à Academia Brasileira e à Sociedade de Medicina Veterinária e recebendo os amigos em sua confortável mansão em Brasília.