Na semana passada andei refletindo sobre meus tropeços de saúde. Vale a pena narrar o acontecido para mostrar como estamos sujeitos ao acaso, mas podemos ajudar com a prevenção:
Foi realmente um período difícil e assustador, quando fui ao médico na semana passada e logo encaminhado diretamente à UTI do Hospital Samaritano. Os sintomas que sentia eram similares aos que meu irmão reclamava nos últimos dias antes de ser encontrado morto. Na escola secundária éramos chamados de Irmãos Corsos. Isto é, se você desse um cascudo em um o outro gritava ai. Crescemos assim, estudamos juntos e trabalhamos juntos até minha ida para a ONU. Ele era um ano mais velho que eu e para continuar a história tínhamos os mesmos problemas cardíacos, só que ele, como mais velho. ligeiramente piores: ele já tinha quatro pontes coronarianas e eu também; ele tinha dezenove stents implantados nas coronárias e eu dezessete (agora dezoito). Agora seria muita casualidade morrermos os dois, do mesmo problema, com um mês de intervalo. O que fez toda a diferença foi que ele estava em Patos de Minas e eu no Rio de Janeiro. Quando começou a passar mal, os médicos locais disseram que era apenas uma infecção de garganta (gênios). Ele telefonou para mim e para nosso cardiologista (claro que o mesmo para os dois). Fizemos tudo para que ele pegasse o primeiro avião para o Rio, mas ele foi adiando até o final. Eu estava no Rio de Janeiro morrendo de medo de que me acontecesse o mesmo. Quando comecei a passar mal, corri para nosso cardiologista e levei uma bronca por ter esperado demais. Não tive nem tempo de vir em casa apanhar o cartão da Aetna e minha esposa dirigiu em velocidade de ambulância até o Hospital. Eu fiquei de quarta-feira até sábado na UTI. Fui submetido a um cateterismo e em sequência a uma angioplastia. Recebi mais um stent (o 18º) em uma ponte coronariana inteiramente bloqueada. Os médicos encontraram cinco pequenas lesões, mas que não apresentam risco imediato. Estou me sentido muito bem (embora muito cansado ainda), mas vou ser obrigado a fugir de estresse (se isso fosse possível), fechar a boca, perder 10 Kg e fazer algumas caminhadas diárias.
Eu não diria que estou novinho em folha, mas bem recauchutado e um pneu bem recauchutado pode prestar o mesmo serviço que um pneu novo. Eu não estou só pronto, mas ansioso para colaborar. Meu primeiro chefe, ainda como estagiário do Instituto de Economia da Fundação Getúlio Vargas, foi o Dr. Eugenio Gudin. Ele foi para mim a mente mais brilhante que esse país já teve e continuou brilhante e produtivo até depois dos 100 anos. Eu não quero e não posso me comparar a ele de nenhuma forma. Essas notas são apenas introdução a uma história que gostaria de contar. Eu já estava em New York há algum tempo quando, durante umas férias no Brasil, eu tive a honra de ser convidado para a festa de aniversário do Dr. Gudin. Eu não tenho certeza, mas penso que era a festa de 101 anos. Não era uma festa grande, ele exigiu que apenas um pequeno grupo de amigos e ex-colaboradores estivessem presentes, de forma que ele pudesse falar individualmente com cada convidado. Junto a mim, um convidado sugeriu a ele como deveria ser difícil a sua vida. Apenas pele e ossos amarrados em uma poltrona, precisando de duas pessoas para arrastá-lo de um lado a outro, praticamente sem nenhum movimento... etc...etc... A resposta dele foi surpreendente. Ele disse que aquele era o período mais produtivo e feliz da sua vida. Ele estava livre de todos os apetites físicos: sexo, comida e bebida; ele praticamente tinha perdido todos os movimentos e atividades físicas mas era bom porque tinha sempre alguém para carregá-lo; ele não conseguia escrever, mas não precisava pois ele podia ditar. Mas lhe restava uma atividade essencial e altamente prazerosa: a mente. Sem outro prazer ou obrigação ele podia gastar todo o tempo do mundo raciocinando, elaborando novas ideias, escrevendo seus artigos e malhando o governo.
Como disse acima, eu não quero e não posso me comparar a um Gênio. Mas quanto mais velho e forçado a limitações físicas, entendo melhor meu mestre e a cuca funciona mais em coisas que nunca tinha pensado antes. Agora mesmo, antes de iniciar esse contato eu estava expondo à minha esposa a ideia de uma elaboração sobre as causas da formação e interligações que deram origem, de forma interligada, às grandes ditaduras de direita e esquerda da década de 30 e a Segunda Guerra Mundial. Parece coisa de doido, mas depois que você se desveste de qualquer influência política e ideológica, de todas as informações distorcidas, você pode interligar todos esses eventos e concluir que foi tudo parte de um único processo e de eventos interligados. Minha esposa, filhos e netos (mesmo aqueles que moram fora do Brasil) insistem para que eu inicie um Blog, pois cada vez que eu falo com um deles (distância não existe mais com o Skype) eu venho com alguma ideia nova e maluca. Eu não tenho coragem, porém de me meter numa aventura dessas nesse momento. Entretanto, sem descer a esse tipo de loucura, eu já tenho até algumas ideias concatenadas de coisas que eu acho que seriam de grande interesse público.
O primeiro já tem até titulo: “Não se combate a febre colocando o bulbo do termômetro no gelo”. É sobre a verdadeira noção e limitações dos índices de preços e as tentativas de manipulações e interpretação dos índices de preços para mascarar a verdadeira taxa de inflação. Pode-se manipular os índices baixando o preço do tomate ou eliminando o IPI sobre o preço das geladeiras, para esconder os erros de política econômica de governo. Inflação é coisa totalmente diferente e se combate de outra forma.
Janes de Souza