Série Narrativas de Viagens e Férias
Giovanni Quaglia
Viagem à Ásia Central de Lisiane e Giovanni Quaglia
Dezembro 2021/janeiro 2022
Viajei com a minha esposa Lisiane para conhecer três países da Ásia Central, do dia 25 de dezembro de 2021 até o dia 13 de janeiro de 2022 (21 dias). Já tinha trabalhado com a FAO em um projeto de desenvolvimento alternativo ao cultivo da papoula de ópio, financiado pelo Fundo das Nações Unidas contra as drogas - UNFDAC na região Norte do Paquistão (North West Frontier Province), propriamente nos vales do Buner (Swat) entre novembro de 1981 e dezembro de 1986. Na minha segunda missão, de julho de 1996 até dezembro de 1997, como diretor/representante do escritório regional das Nações Unidas sobre droga e crime para o Afeganistão, Irã e Paquistão, não tive a oportunidade de conhecer a Ásia Central.
Lisiane tinha também muita vontade de conhecer os 5 "Stan" mas, nesta oportunidade, não foi possível, devido ao fato que o Turcomenistão estava fechado ao turismo internacional e no Cazaquistão tiveram problemas de ordem pública em janeiro de 2022.
Ir agora também nos deu a oportunidade de conhecer a realidade depois do período da União Soviética, entre 1922 e 1991, que unia 15 repúblicas socialistas soviéticas e a sua dissolução em países independentes a partir de 1991 (30 anos já se passaram).
Alguma informação básica sobre os 3 países visitados:
- Uzbequistão: Tem uma população de cerca 35 milhões de habitantes, dos quais 80% são etnicamente uzbeques e o restante, Tadjiques, Cazaques, Russos Coreanos. A área é de 447.400 km, mas o deserto do Kyzyl Kum ocupa cerca da metade do território. Tem planície e montanhas. O PIB per capita é de US$7.500.
-Tajiquistão: Tem uma população de cerca 9.5 milhões de habitantes dos quais 85 % Tadjiques e o restante principalmente uzbeques. A área é de 143.000 km, principalmente montanhoso e com um PIB per capita de US$3.500.
- Quirguistão: Tem uma população de cerca 6.5 milhões de habitantes dos quais 65% são etnicamente quirguizes, 15% uzbeques, 10% russos e outras minorias. A área é de 199.951 km, principalmente montanhoso com o pico Pobeda com 7.430 metros de altitude, na fronteira com a China... O PIB per capita é de US$3.850.
Muitas informações sobre os três países estão disponíveis no Wikipedia e vou me limitar a questões observadas durante a viagem.
a) Os três países investiram pesado para atrair turistas Museus estão muito bem-organizados, o acervo histórico é impressionante e bem cuidado, hotéis foram construídos, tem bons restaurantes etc. Ainda faltam traduções para o inglês para facilitar a vida dos turistas estrangeiros. Vale a pena destacar que o Uzbequistão tem um turismo local e regional importante que está familiarizado com o idioma do país e o russo. Apenas 1% da economia depende do turismo e o potencial para crescer existe em especial para satisfazer a necessidade de emprego para jovens e profissionais do turismo. Antes da pandemia (até o ano 2019) os três países recebiam muitos grupos de turistas internacionais em especial da Europa, Rússia, Estados Unidos, Japão e China, que usam guias locais que falam idiomas estrangeiros, para lidar com os tours. Raramente se vê turistas individuais, ou um casal como eu e Lisiane, visitando estes países de forma independente. Durante a viagem deu para perceber quanto o turismo impacta na vida de muitas pessoas. É uma atividade transversal com um efeito cascata em vários setores, sobretudo na criação de empregos. Depois de dois anos de crise do setor tem que esperar que em 2022 a situação melhore.
b) Infraestruturas viárias: Durante os últimos 10 anos tiveram investimentos pesados, com a ajuda do Asia Development Bank, entre outros, para modernizar as estradas. Nos três países, principalmente empresas chinesas, coreanas, alemãs, russas etc., que executaram os projetos aprovados pelos governos e hoje já estão quase completos. Viajar sobre rodas é também a opção mais comum para o grande transporte via caminhão que cruza estes países também em direção ao Cazaquistão, à Rússia e à China.
c) Rota da seda: A Ásia Central sempre teve a função de juntar a Ásia e a Europa, pelo menos nos últimos 2.500 anos, o que corresponde mais o menos ao período do fortalecimento de Roma até hoje. O comércio e as caraterísticas principais, e quem podia garantir o livre fluxo de mercadorias, ganhava um percentual a mais e obrigava os comerciantes a usar os camelos e a estrutura do poder dominante. Este serviço era muito cobiçado, para defender-se dos nômades que depredavam as caravanas, e vários impérios se seguiram para dominar áreas sempre maiores. O financiamento dos impérios se sustentou sobretudo com a cobrança de serviços de segurança. Tiveram períodos de glórias, sob alguma autoridade com visão, que deixaram para nós as belezas arquitetônicas que visitamos. Cada país tem os seus heróis que corresponde à um período histórico diferente. Como ocorreu na maioria das partes no mundo estas grandes obras foram construídas usando mão de obra escrava ou em condições forçadas. Só os melhores artesãos recebiam um pagamento e reconhecimento social.
d) O período soviético: Grandes mudanças ocorreram durante este período na Ásia Central. As grandes avenidas que encontramos hoje nas maiores cidades dos 3 países foram implantadas pelos soviéticos junto com toda uma infraestrutura de edifícios governamentais, universidades, escolas, hospitais. Impressionante ver também a quantidade de edifícios usados para habitação de pessoas comuns. A base para cidades modernas foi estabelecida durante este período soviético e nos últimos 30 anos de independência este progresso continuou. Educação, saúde e trabalho para todos também podem ser considerados fatores relevantes durante este período. Como as pessoas podiam circular dentro das 15 repúblicas soviéticas, teve uma migração de população entre os países e russos se estabeleceram e se casaram com locais e vice-versa. Os países da Ásia Central tinham um rol político-estratégico relevante na época para conter o avanço ocidental (inglês) na zona. Os soviéticos estenderam a linha de trem até o Tajiquistão e o Turquemenistão para facilitar o envio de militares, caso necessário. Até hoje, a segurança na fronteira do Tajiquistão e Quirguizistão com o Afeganistão está garantida pela Red Armyrussa.
e) População urbana vis a vis à população rural: Observamos nas cidades um clima de modernidade na forma como as pessoas se vestem e se comportam em público. A maioria fala a língua local e russo. Somente na nova geração percebe-se alguns falantes de inglês. Nas zonas rurais a vida é mais de família estendida, onde casamentos são organizados pelas famílias na maioria dos casos. A tradição, religião e cultura têm um peso maior na vida das famílias e especialmente das mulheres que passam a ter uma vida mais retirada e com poucas opções de trabalho fora de casa. Esta realidade, que existe também em muitos outros países da região incluindo o Paquistão, Afeganistão, Irã etc. e seu impacto em uma política mais conservadora, muitas vezes não é bem avaliada pelos governos ocidentais que tratam com os líderes que representam valores e realidades mais urbanas que rurais, onde fatores culturais locais são muito enraizados.
f) Viajar em período de baixa temporada: Durante o período da viagem encontramos poucos turistas estrangeiros. Hotéis e restaurantes de bons níveis com comida excelente, disponibilidade de bons vinhos locais e preços justos.
g) Clima / Saúde: Só nos dias 25 e 26 de dezembro 2021 nevou em Tashkent e isto atrasou o nosso voo para Chiva em 3 horas. Para quem não teve contato com a neve nos últimos 3 anos foi uma boa surpresa. Nos outros 15 dias as temperaturas variavam de -10 graus centígrados pela manhã a +10 durante o dia. Como estávamos bem agasalhados, não tivemos problemas de saúde em todo o período. As medidas de prevenção ao COVID 19 eram limitadas ao uso da máscara em lugares fechados. Para a entrada em todos os 3 países foi solicitado o teste negativo de PCR. Isto foi facilitado na região porque os hotéis tinham convênio com os laboratórios que faziam o teste diretamente no lobby do Hotel.
h) Fotos das cidades históricas foram as mais importantes durante a viagem, além da geografia dos países. A economia destes 3 países ainda funciona muito com o dinheiro em efetivo que é facilitado pela disponibilidade de máquinas ATM em todos os lugares visitados. Retirar dinheiro com o cartão VISA débito, seja em moeda local, euros ou dólares não foi problema. Pagar com VISA crédito era limitado a hotéis e poucos estabelecimentos. Em conclusão tivemos uma experiência muito rica que nos permitiu viajar de avião, trem e carro, conhecendo várias realidades e fazendo um intercâmbio cultural com as pessoas e principalmente os guias que nos acompanharam o tempo todo.
*Os dados formais sobre esses países são encontrados na internet.