Série Nossa História nas Nações Unidas
Fevereiro / 2024
Meu desejo de conhecer diferentes países e culturas me levou a procurar maneiras de traduzir um sonho em realidade. Eu trabalhava com uma empresa de engenharia de construção na província de Cuneo (região do Piemonte, no norte da Itália), mas naquela época o serviço militar era obrigatório. Poucos anos antes, uma lei chamada lei Pedini foi aprovada dando a oportunidade de usar o tempo do serviço militar para o serviço civil na Itália ou em países em desenvolvimento como parte do programa de cooperação técnica.
Eu me candidatei a ambos simultaneamente, ou seja, serviço militar com a unidade alpina do Exército, e serviço no exterior sob o programa de cooperação técnica do Ministério das Relações Exteriores (M.A.E). Fui aceito em ambos, mas o início do serviço militar foi alguns meses depois e, portanto, meu alistamento foi abandonado.
O Ministério das Relações Exteriores me chamou para uma entrevista em Roma e, em dezembro de 1970, fui aprovado em um programa de voluntariado coordenado pelo Secretariado Internacional para o Serviço Voluntário (I.S.V.S) em Genebra, Suíça. Destino: a cidade de Taiz, na República Árabe do Iêmen (atual República do Iêmen). Esta oportunidade marcou toda a minha vida internacional e contribuiu significativamente para o meu crescimento profissional e pessoal.
No início de janeiro de 1971 viajei para Genebra para um briefing de duas semanas e língua árabe básica e lá encontrei meus outros quatro colegas dos EUA, Reino Unido, Áustria e Índia. Conhecer a língua francesa me ajudou em Genebra, mas aprender inglês e árabe básico foi um desafio a ser enfrentado localmente no Iêmen. À exceção do colega austríaco, todos nós tivemos a nossa primeira experiência internacional.
Concluído o briefing em Genebra, viajamos para Sanaa, capital da República Árabe do Iêmen, onde ficamos uma semana para receber um briefing mais técnico do PNUD/Escritório de Coordenação da ONU e do Representante da FAO.
Fomos designados para o Projeto de Desenvolvimento Agrícola Midland da FAO com sede na cidade de Taiz, com um líder de equipe de projeto da Suíça que era fluente em inglês, francês, alemão e italiano. Portanto, não tivemos problemas de comunicação por causa da barreira linguística. O projeto foi financiado pelo PNUD e executado pela FAO, uma vez que seu principal objetivo era a melhoria das áreas rurais com ênfase no desenvolvimento agrícola, florestal e pecuário.
Assim que cheguei à sede do projeto, o líder da equipe me perguntou se eu poderia ajudá-lo no setor de irrigação e água potável. A primeira ação urgente foi restaurar um antigo sistema de captação de água de aproximadamente 500 metros de extensão que estava seco, porque os poços de inspeção e o canal subjacente tinham colapsado. Este sistema tradicional, chamado Qanats, existe em várias partes do Oriente Médio em áreas secas e precisam de manutenção constante.
Recebi cinco pedreiros (um deles também atuando como intérprete), 80 operários, equipamentos de escavação e materiais de construção, um carro com motorista e mão livre [ ?? ] para resolver o problema. Após três meses de trabalho intensivo o sistema foi restaurado, ficou em pleno funcionamento e com água de nascente fluindo para a terra irrigada.
Assim que a notícia se espalhou, mais pedidos de escavação de poços operados por moinho de vento e poço tubular para água potável e irrigação, operados por motores a diesel e bombas, foram feitos ao líder da equipe do Projeto que me procurou para execução. Em clima seco, o sucesso dessas operações é bastante arriscado, mas ao escolher áreas específicas em vales o risco foi reduzido e vários poços bem-sucedidos foram estabelecidos.
Mais pedidos também vieram de comunidades que vivem em áreas montanhosas para armazenar água durante as estações secas. Dediquei um bom tempo do meu período no Iêmen trabalhando nessas comunidades. Eles tiveram que transportar cimento do vale para suas aldeias com a ajuda de burros, mas o resultado de contar com a capacidade de armazenamento de água valeu a pena.
Voltando à Itália no final de minha experiência voluntária com um Projeto da ONU, dediquei algum tempo a estudos, consultorias de curto prazo e, em novembro de 1974, fui aceito como especialista associado em um Projeto da FAO no Mali (África Ocidental), onde um esquema de irrigação para a produção de sementes de arroz necessitava de assistência técnica para infraestruturas, como estradas, barreiras de água, controle da entrada do rio Níger para as terras agrícolas durante as temporadas de cheia, etc. Especialista Associado é uma forma de jovem profissional ser associado a um Projeto das Nações Unidas por até 3 anos, com financiamento fornecido por seu próprio governo, neste caso a Itália.
Tanto a experiência como Voluntário da ONU quanto o Especialista Associado foram iniciativas pioneiras do Ministério das Relações Exteriores da Itália e Cooperação Técnica através do sistema da ONU.
Sinto-me honrado por ter sido um dos primeiros jovens profissionais a ter participado nestas iniciativas pioneiras e uma vez concluído o período de Especialista Associado fui recrutado como Especialista de Engenheiro de Irrigação completo da FAO durante os meus últimos dois anos no Mali, seguidos por seis anos no Paquistão, mas trabalhando em um projeto de desenvolvimento alternativo para combater a produção de ópio (irrigação no início e líder da equipe do projeto nos últimos dois anos), financiado pelo UNFDAC com sede em Viena (precedente ao UNODC).
Desde junho de 1988 iniciei minha carreira como Representante do UNFDAC com quatro anos na Bolívia, quatro anos no Brasil, 18 meses no Paquistão responsável pelo Irã e Afeganistão, 4 anos e meio em Viena na sede do UNODC como Chefe de Operações. Minha última missão como Representante do UNODC foi o Brasil com responsabilidades sobre a Região do Cone Sul por sete anos, completando meus 32 anos no Sistema ONU em junho de 2009, quando me aposentei e decidi estabelecer minha residência familiar em Brasília, Brasil.
Atualmente sou membro voluntário ativo e Presidente Emérito da Associação de Ex-Funcionários Internacionais das Nações Unidas no Brasil – AAFIB.